segunda-feira, fevereiro 28, 2011

‘Ti-ti-ti’:Ator explora conflitos sexuais de seu personagem




Armando Babaioff em 'Ti-ti-ti'. Foto: TV PressArmando Babaioff vive o Thales de ‘Ti-ti-ti’, da Globo
Foto: TV PressMárcio Maio
Armando Babaioff sabia desde o início que entraria em Ti-ti-ti depois que a novela já estivesse no ar. Mas, sobre o discreto surfista Thales, pouco sabia. Por isso mesmo, recebeu com surpresa o fato do personagem se revelar gay no decorrer dos capítulos. Um fator que ele garante ter sido crucial para garantir o equilíbrio ao compor o papel de um homem que tem dificuldades de aceitação e, principalmente, vivencia o amor com uma pessoa do mesmo sexo pela primeira vez. “Isso contribuiu para que não caíssemos no risco de estereotipar nada. Construí tudo em cima do texto. As brechas foram dadas aos poucos, o que ajudou a evitar sustos em quem assistia”, avaliou o ator de 29 anos.

Na história, Thales precisava se casar para assumir a herança deixada pelos pais, mas que estava em poder de uma tia. Se uniu à excêntrica Jaqueline, de Cláudia Raia, depois que a fashionista foi abandonada pelo caricato Jacques Leclair, vivido por Alexandre Borges. Uma situação que, fora da ficção, favoreceu – e muito – o trabalho de Armando. Contracenando com Cláudia, o ator “pegou carona” no carisma de Jaqueline e acabou agradando. Tanto que seu papel não parou de crescer depois que apareceu na trama de Maria Adelaide Amaral. “A impressão que eu tenho é que as pessoas começaram a enxergar o Thales pelos olhos da Jaqueline. Como ela estava na pior e ele vinha para reerguê-la, foi muito bem aceito”, opinou.
Armando confessa que já ouviu comentários preconceituosos em relação ao personagem. Mas garante que não se surpreendeu. “Vivemos um preconceito velado no Brasil. E não só em relação aos gays, mas a várias outras minorias. Que nem são tão minorias assim”, argumentou. De qualquer forma, o ator acredita que a abordagem do público mostra que a intolerância está diminuindo. E que mesmo alguns preconceituosos conseguem se emocionar com o drama de Thales. Isso porque o surfista, depois de se casar com Jaqueline, se apaixonou pelo cabeleireiro Julinho, de André Arteche. “Tem muita gente que diz que o Thales é bonito e forte demais para ser gay. O que acho mais legal é mostrar que o dentista, o médico, o bombeiro ou qualquer outra pessoa que eles conheçam também pode ser gay. Não é algo que venha escrito na testa das pessoas”, analisou.
Tranquilo em relação a interpretar um gay, o maior problema de Armando foi mesmo ter de encarar um surfista mais uma vez. O ator não tem a menor afinidade com a prancha. “Quando eu li a sinopse, era um ex-surfista. E a primeira aparição do Thales no texto era ele saindo do mar, dourado. Fiquei apreensivo”, lembra ele, que estreou na tevê como o “bad boy” Felipe, de Páginas da Vida, que também gostava de pegar onda. “Devo ter cara de quem vive no mar. Estou até pensando em fazer um curso de surfe quando a novela terminar para não ser mais pego de surpresa”, brincou.
Às vésperas de terminar seu trabalho em Ti-ti-ti – a novela acaba no dia 18 de março -, Armando ainda não sabe qual será seu próximo trabalho na tevê. O contrato com a Globo vence só no final do ano, mas ele torce para ser aproveitado pela emissora antes disso. De preferência, em algum projeto do diretor Luiz Fernando Carvalho, de quem se declara fã. “Quero muito poder trabalhar com ele. É um cara que eu admiro demais”, derreteu-se. Enquanto não realiza o desejo, Babaioff se prepara para estrear a peça A Escola do Escândalo, de Miguel Falabella. E também se ocupa com a produção do espetáculo Na Solidão dos Campos de Algodão, dirigido por Caco Ciocler, que deve reestrear em São Paulo no segundo semestre. “Vim do teatro e faço questão de manter meu vínculo com os palcos”, atestou.
Ti-ti-ti – Globo – Segunda a sábado, às 19h30.
Começo involuntário
O pernambucano Armando Babaioff se mudou com a família para Rio com apenas nove anos. E começou a se interessar pelos palcos depois das aulas obrigatórias de Teatro na Escola Municipal Pio X, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da capital fluminense. Na época, foi aluno do ator Marco Miranda. “Aos 15, já estava trabalhando. Tudo aconteceu naturalmente”, recordou. Aos 17 anos, por influência de um amigo, ingressou no Grupo Bicho de Porco, em Niterói, onde passou a ter contato com profissionais mais experientes. De lá, só saiu para se especializar na Escola de Teatro Martins Pena. “É a escola de teatro mais antiga da América Latina. Devo tudo que sou hoje ao que aprendi lá, mas pouca gente dá valor. Ela é mais voltada para pessoas com menos recursos. Quem tem grana sempre vai parar na CAL e no Tablado, na Zona Sul do Rio”, valorizou.
O interesse por construir uma base sólida em seu currículo continuou e Armando prestou vestibular para Artes Cênicas na Unirio. Passou há oito anos, mas teve de trancar algumas vezes. Primeiro, para ensaiar A Primeira Noite de um Homem, espetáculo que protagonizou ao lado de Vera Fischer. E foi a peça que o fez ser chamado para cursar a Oficina de Atores da Globo e, em seguida, a novela Páginas da Vida. “Eu nunca tinha pisado em uma emissora de TV para tentar algo como ator. Fui chamado pelo meu trabalho no teatro”, gabou-se ele, que também integrou o elenco de Duas Caras, encarnando o batalhador Benoliel.
Instantâneas
# Armando pensa em passar um tempo morando em Pernambuco no futuro. “É um lugar incrível culturalmente. E os jovens de lá são mais politizados”, assegurou.
# O ator garante que o assédio não aumentou e nem diminuiu depois que Thales se revelou gay. Tanto masculino quanto feminino.
# Nas ruas, segundo Armando, existe uma torcida por um beijo gay. “Mas, pelo horário, não deve acontecer”, previu.
# Curiosamente, Armando estreou na TV na pele do “pitboy” praticante de jiu-jitsu Felipe, em Viver a Vida

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