Clara apareceu viva, matou Eugênio, Saulo e Ednéia (Foto: Divulgação\Globo)
O  desfecho de “Passione”, que foi ao ar na noite da última sexta-feira   (14), mostrou que ainda é possível fazer uma boa dramaturgia, com uma   trama dinâmica e que prende o telespectador, porém ao mesmo tempo   ratificou que o segmento vive em uma crise de criatividade e de   responsabilidade dos autores.
 Ao  longo de seus aproximadamente oito meses de exibição, a novela das  nove  foi defendida por um bom elenco – embora nem todos tenham   correspondido a altura. A direção foi de Denise Saraceni, que teve neste   um de seus melhores trabalhos. Apesar de altos e baixos, a trama de   Sílvio de Abreu terminou com um saldo positivo.
 Em  seu início, “Passione” aparentava que não iria resistir a sina que   persegue os autores de folhetins das 21h da Globo. Há anos, salvo raras   exceções, após a exibição da primeira semana a imprensa anuncia:  “novela  das nove tem a pior semana da década”. Com “Passione” realmente  não foi  diferente. O conjunto de belas cenas na Itália e de outras bem   dirigidas em São Paulo não foi suficiente para cativar sequer o mesmo   grupo de telespectadores que acompanhava a tão criticada “Viver a  Vida”.
  Apesar da crise das primeiras semanas, era nítido que os ingredientes de   um folhetim de sucesso estavam todos inseridos, embora de forma um   pouco distinta do habitual. Um protagonista, dois vilões, um núcleo de   humor, tramas paralelas bem sustentadas e promessa de suspense faziam   “Passione” um iminente sucesso – diferente da trama de Manoel Carlos.
 No  decorrer de “Passione”, Mariana Ximenes cresceu na pele da vilã Clara  e  teve o maior papel de toda sua carreira. Entretanto, quando citamos o   elenco é que os primeiros pontos negativos começam a aparecer. O   primeiro exemplo é o de Tony Ramos. A construção do personagem foi   excelente e realmente é inimaginável ver outro ator interpretando o   Totó. Entretanto, essa novela não acrescentou muito à carreira do ator.   Diante de tantos personagens similares e seguidos, a sua participação   vem se tornando corriqueira e sua imagem desgastada. 
 Por  outro lado, Gabriela Duarte, após treze anos, finalmente conseguiu   enterrar a imagem da “chata” Maria Eduarda de “Por Amor”, reprisada no   Viva. “Chiquinha Gonzaga” ou “Sete Pecados” não chegaram aos pés de   apagar ou atenuar a rejeição que o público tinha a ela pelo fato de seu   personagem em 1997. Por fim, a segunda baixa foi a de Carolina   Dieckmann, intérprete da Diana. Essa nem de longe foi a melhor   personagem da vida da atriz – assim como não foi a pior se comparado com   o papel que teve em “Três Irmãs”. A culpa do fracasso da Diana foi   assumida pelo próprio Silvio de Abreu, que reconheceu que quando a   jornalista havia escolhido casar com Gerson o papel havia se perdido.
  Diante de uma trilha sonora impecável, produção muito bem acabada e   descontando os altos e baixos do elenco, o que tornou o final de   “Passione” um tanto amargo foi a falta de criatividade de Silvio de   Abreu. 
 Em  uma das cenas do último capítulo, vemos Clara fugindo e uma cena de   acidente de carro no qual todos acreditaram que ela havia morrido –   quando na verdade havia sido outra personagem. A cena foi quase um   remake da morte de Bia Falcão, há cinco anos. Bia não havia morrido e   sim uma outra mulher. A versão de 2011 foi piorada, afinal de uma mega   produção na Rodovia dos Imigrantes a de agora foi reduzida a alguma   tomada feita nas imediações do Projac. Aproveito também para questionar   que no ano em que estamos não houvesse nenhum médico legista para   verificar se o braço carbonizado era realmente o de Clara. Confesso ser   leigo no assunto, mas será que nenhuma impressão digital realmente   poderia ter sido encontrada? E esse erro se repete em outra cena, a qual   vou falar mais abaixo.
 Outro  clichê foi a autoria do assassinato de Saulo, vivido por Werner   Schunemann.  A responsável pela sua morte havia sido a grande vilã da   história quando na verdade o autor poderia ter buscado alternativas para   inovar e surpreender o público. Apesar disso, a justificativa dada   convenceu. O que não convenceu foi o fato de Clara não ter sido culpada   pelo crime. No capítulo em que Saulo foi assassinado, inúmeros  policiais  interditaram o quarto e outras áreas do motel. Será que  nenhum  investigador encontrou fios de cabelo ou digitais que pudessem  levar a  Clara? Sei que se a novela fosse explicada nos mínimos detalhes  não  teria graça, porém no ano em que estamos, na sociedade em que  vivemos  onde crimes dos mais misteriosos como o da morte da menina  Isabela são  totalmente desvendados com a ajuda da tecnologia, os  autores de novelas  precisam se atualizar e elevar o grau de  inteligência em suas tramas.
 E  voltando a falar de Clara, na última cena da novela ela aparece em um   agradável resort a beira mar como cuidadora de idosos. Um desfecho muito   parecido com o de Bia Falcão, que reapareceu em Paris longe de  qualquer  possibilidade de ser presa. 
  Diante de todos esses fatos e levando em conta o que a própria Globo   exibe ou o que as concorrentes levam ao ar, “Passione” terminou em alta.   Foi melhor que “Viver a Vida” e a vejo como superior a “Caminho das   Índias”. A trama é equiparada a “A Favorita”, de João Emanuel Carneiro.   As duas, se unidas, formariam a melhor novela já exibida. O eixo   principal do folhetim de Carneiro era mais forte que o de “Passione”.   Porém, ao mesmo tempo, as tramas paralelas traçadas por Silvio de Abreu   batem, de longe, as criadas pelo seu antigo supervisionado.
Fonte: Na telinha