sábado, novembro 12, 2011

Carrossel assusta JN e o Dono do Mundo,relembre no Bau do Ibope

RELEBRE O TRABALHO QUE CARROSSEL DEU PARA  OS JORNAL NACIONAL E A NOVELA DAS 8 O DONO DO MUNDO
A NAVALHADA
O Dono do Mundo começa a mudar no próximo sábado, no capítulo 24.
No início da semana passada, Gilberto Braga reescreveu às pressas cinco cenas
e introduziu mais duas. Na versão original, o capítulo terminava com
Márcia (Malu Mader) "completamente catatônica" após perder o filho
que esperava de Felipe (Antônio Fagundes). O que era sofrimento
se transforma em violência.
 
                    CONTRA-ATAQUE — “Entre assistir às novelas da Globo, que exploram cenas de sexo, algumas constrangedoras, e Carrossel, admitamos que a segunda opção é um mal menor”, afirma Silvio Santos. O ibope da novela das crianças é fruto da inspirada visão de Silvio Santos para assuntos televisivos. Dias antes de levá-la ao ar, o empresário aceitava apostas de 100.000 dólares contra quem duvidasse que a média da audiência da novela passaria da marca dos 10 pontos. Silvio Santos resolveu pagar 10.000 dólares para cada capítulo de Carrossel logo depois de assistir à novela numa viagem aos Estados Unidos. O SBT também contou com um lance de sorte em sua investida. Carrossel foi adquirida num pacote com outras três novelas. Pelos planos iniciais de Guilherme Stoliar, um dos executivos do SBT, Carrossel não era a grande atração a ser levada ao ar imediatamente. A prioridade deveria ser dada a outras produções. Acontece que apenas Carrossel e a novela que vai ao ar logo em seguida, Rosa Selvagem (que tem premiado o SBT com um ibope na faixa dos 11 pontos), estavam disponíveis no armazém da Televisa mexicana. Por isso elas vieram primeiro e estrearam na frente. Se fosse obedecida a cronologia concebida pela inteligência opaca de Stoliar (que só está no SBT porque é parente do dono), as crianças que hoje se divertem com Carrossel continuariam no sereno.
 
                    Atingida no centro nevrálgico de sua programação, a Globo armou um contra-ataque profissional. No domingo dia 2, Gilberto Braga reuniu-se com Leonor Brassères e Angela Carneiro, que o auxiliam a escrever a novela, e deu uma garibada em dez capítulos numa só tacada. Outras mudanças serão feitas a curto prazo. Em suas linhas gerais, como o conflito da moça de subúrbio com o cirurgião plástico rico, bem-sucedido e inescrupuloso, O Dono do Mundo fica como está. O que muda é o tom. A viúva Márcia, que até há pouco levava sua vida numa boa, irá passar por uma jornada de sofrimentos cruéis, que terá início com sua expulsão de casa. “Quando a heroína é mal compreendida, tem que sofrer para purgar seu crime e ser aceita pela sociedade”, diz Fernanda Montenegro, que faz a cafetina de luxo chamada Olga. 
  
 
O novo texto leva uma furiosa Márcia ao consultório de Felipe:
Márcia (gritando) - Você está achando que destruiu a minha vida, mas...
Felipe - Pára com isso, se você não sair daqui imediatamente eu chamo a polícia!
Quando o médico tenta empurrar Márcia para fora, ela pega um bisturi que está sobre
sua mesa e "corta o rosto de Felipe, com grande violência". O corte é superficial, mas o
script deixa claro: "Neste final de capítulo deve haver o máximo de sangue possível".
                    Já no sábado o público poderá ter uma idéia do que vem por aí. Lá pelas tantas, Márcia comparece ao consultório de Felipe. Conforme o texto original, os dois discutiam e Márcia ia embora, desiludida, em “estado catatônico”. Agora, ela apanha um bisturi sobre a mesa e dá uma antológica navalhada no rosto de Felipe. “O corte é superficial, mas neste final de capítulo deve haver o máximo de sangue possível”, recomenda Gilberto Braga no script enviado à produção da Globo. Ou seja, a professora Márcia se transformará num monstro vingativo e depois comerá o pão que o diabo amassou. Décadas depois de aposentar a cubana Glória Magadan, pioneira de suas novelas da década de 60, e informar ao público que resolvera modernizar sua dramaturgia criando o que se chamou de “novela brasileira”, a palavra de ordem é mexicanizar. Os mexicanos de verdade, que estão no SBT, são crianças que fazem maldades, choram, brincam e riem. Os mexicanos da Globo são adultos que bebem até alta madrugada e querem sangue.
 
                    ESTAFA — No início da semana passada, o diretor de O Dono do Mundo, Denis Carvalho, telefonou aos atores para informá-los das mudanças. Sua instrução foi que ficassem de sobreaviso e, de imediato, parassem de decorar os capítulos de 25 a trinta, pois seria perda de tempo. Os novos capítulos só foram distribuídos na quarta-feira, obrigando o elenco a um esforço incomum para decorá-los antes da gravação. Em algumas ocasiões, foram gravadas 36 cenas num único dia — mais que o dobro da produção normal. Na manhã de quinta-feira, Antonio Grassi, o garçom Darci da novela, que vai expulsar a Márcia de casa, precisou levar o script para a capela do cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, onde estava sendo velado o amigo Chiquinho Brandão, ator da minissérie O Sorriso do Lagarto, que dias antes morrera num acidente de automóvel. “Com a mudança de todos os scripts, tivemos que levar os papéis para o velório para terminar de ler as falas. Ainda assim, Dênis Carvalho deixou os atores entrarem no estúdio com scripts para colar suas falas”, diz Grassi. Nessa fase atual, Malu Mader tem sofrido mais que mocinha americana raptada por bandidos mexicanos. Mal consegue dormir. Sua estafa é tamanha que na quinta-feira foi obrigada a gravar a mesma cena em cinco oportunidades. “Tenho que decorar 26 páginas de um dia para o outro”, diz Malu. “O ritmo de gravações se intensificou e eu não paro de correr.” Esse esforço da Globo em promover uma reforma geral na novela é uma tradição em toda emissora que luta desesperadamente para recuperar pontos no ibope. Mas a outra tradição é que essas operações quase nunca dão certo. Às voltas com o erotismo ecológico de Pantanal, a Globo chegou a mostrar os seios de Cláudia Raia em Rainha da Sucata — o sucesso, mais que merecido, só durou uma noite. O próprio SBT já viveu uma experiência semelhante com Brasileiras e Brasileiros. Dizia-se que uma novela em que heróis e vilões integravam um mesmo bando de descamisados não seria capaz de chamar a atenção de ninguém e estava mesmo destinada ao fracasso. Improvisaram-se os milionários de plantão em escritórios luxuosos e mansões cheias de novidades eletrônicas. Com sua opção exclusiva pelos pobres, Brasileiras e Brasileiros chegou a ter 8 pontos no ibope. Com os milionários, acabou em 5. Em 1967, no exemplo mais radical de recauchutagem das novelas brasileiras, a falecida Janete Clair promoveu um terremoto que provocou a morte de 35 dos quarenta personagens da novela Anastácia. O maior resultado prático foi a economia com os cenários e cachês de atores e os figurantes dispensados do serviço.
 
 

 
 
 
O CONTRA-ATAQUE
Diante de Carrossel, a Globo teve reação rápida.
Dênis Carvalho, diretor de O Dono do Mundo, avisou os atores
que não precisavam decorar mais nada. Ia mudar tudo.
 
 
                    Há um dado crucial no esforço da Globo para construir um dique em torno da audiência de Carrossel. No passado, havia uma guerra de novelas. Agora, é uma concorrência entre produtos de natureza distinta, como a novela Carrossel e o noticiário do Jornal Nacional. É um fato estabelecido nas televisões do mundo inteiro — os programas de entretenimento sempre batem os de telejornalismo, a não ser em situações excepcionais, como a guerra do Golfo. Temendo uma carnificina que mandasse todos os telejornais para o abatedouro, há vários anos que as três grandes redes americanas selaram um acordo de cavalheiros pelo qual sempre exibem seus noticiosos noturnos no mesmo horário. Há três anos, Silvio Santos tentou trazer para o Brasil a experiência americana de unificação dos horários dos telejornais. Ele lançou a proposta em seu programa dominical, mas não conseguiu nenhuma adesão das outras emissoras. Não fazia sentido, para a Globo, aceitar a proposta de Silvio Santos. Isso porque no Brasil o jornalismo também perde para o entretenimento, mas há uma diferença: implantados em horários estratégicos, sem ter à sua frente concorrentes com equipamento e patrimônio para realizar investimentos à altura, a Globo mantém três programas jornalísticos que estão entre as cinco maiores audiências da rede — o Jornal Nacional, o São Paulo Já e o Globo Repórter. Há seis anos, Silvio Santos fez um primeiro ataque na estratégia entretenimento contra jornalismo. Lançou o programa Chaves, também mexicano e infantil, para competir com os telejornais regionais da Globo. A experiência deu relativamente certo e hoje Chaves faz em média 9 pontos de audiência. Outra emissora, a Record, também promove um investimento semelhante, exibindo o seriado Os Três Patetas no horário do Jornal Nacional.

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