O público ainda não viu as cenas de Ivete Sangalo na próxima novela das 23h, mas a participação da cantora em “Gabriela” já dá o que falar. É claro que muitos comentários chegam repletos de preconceito, afinal, como julgar algo que ainda não se viu? Mas, infelizmente, em nosso país é assim. Fala-se muito. Briga-se muito a partir de conceitos antigos, de visões que se perderam no tempo. Qualquer um comenta, mesmo sem conhecer nada sobre aquilo que está na berlinda do povo. Aqui, muitos não se permitem olhar diferente porque o novo pode incomodar e grupos se defendem, criam reservas de mercado e condenam quem deseja ampliar horizontes ou aqueles que não têm medo de arriscar o novo e aceitar desafios. Coitados dos autores de telenovelas, pois daqui a pouco não poderão convidar artistas de outros países, galãs que viram brilhar em Portugal, Espanha ou Itália.
Não estou defendendo Ivete Sangalo como atriz, mesmo porque ela ainda não estrou em “Gabriela” e, antes de falar qualquer coisa sobre sua atuação, é necessário assistir às suas cenas. Mas, fico impressionado como uma parcela do público, da imprensa e até profissionais de TV tem a capacidade de rejeitar qualquer coisa diferente mesmo antes dela chegar. Outra discussão que surge a partir das críticas que Ivete Sangalo recebeu por aceitar participar de “Gabriela” é em relação à formação dos artistas brasileiros. Em nosso país é crime conseguir interpretar, cantar, dançar, entreter, comandar uma plateia. No Brasil artista tem que ser de arte única. Ou ele interpreta, ou canta, ou apresenta, ou dança. Se misturar tudo é um canastrão, um picareta, um aproveitador, alguém que roubou o lugar do outro. Um bandido. Só aqui.
Nos Estados Unidos, artista tem que ser artista completo, brilhar em tudo, se dedicar a tudo, estudar tudo. Os grandes nomes do cinema interpretam, dançam, cantam em seus filmes. Nos musicais da Broadway o elenco é formado por profissionais completos e muitos trabalham nos estúdios da Broadway e também nos de TV. Lá, todas as plataformas se comunicam, mas no Brasil é diferente. Aqui, o verdadeiro ator é o de teatro. No cinema está quem procura algo mais profundo e na televisão somente aqueles que sonham com a fama e se deslumbram com as luzes dos holofotes. Ao pensar assim, separamos as artes. O teatro é a mais nobre. O cinema é feito por inteligentes. A televisão não vale nada. Uma triste realidade que mostra o quanto somos preconceituosos e perdemos com nossa curta visão.
Informação importante: em “Gabriela”, Ivete Sangalo será Maria Machadão, a mulher que manda no maior cabaré de Ilhéus: o Bataclã. O remake de “Gabriela” ocupará a faixa das 23h na Globo e será um dos elementos na comemoração do centenário de nascimento de Jorge Amado.
JP-
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