Se confirmada a notícia levada aos holofotes por Keila Jimenez na edição desta quinta-feira, 09, do jornal Folha de S.Paulo, temos pela frente a derrocada de um gigante que sequer se deu conta da sua estatura.
Segundo informa Jimenez, a Record está em vias de terceirizar grande parte de sua produção – novelas, séries, programas de auditório e até o jornalismo – com o intuito de diminuir seus custos para ver se “a conta fecha”. Estima-se que a Record tenha encerrado 2012 com um rombo de R$ 80 milhões, mesmo com os robustos R$ 500 milhões pagos pela Igreja Universal pelas madrugadas do canal.
Há quem tenha comemorado a notícia. Há quem tenha achado a solução para os problemas da emissora. Considerar benéfica a utilização de mão-de-obra de fora quando se conta com um “quase-Projac” é algo que merece melhor reflexão.
A Record – espero, Keila, que você esteja errada – abrir mão de produzir para comprar pronto, MESMO SENDO MAIS BARATO, é um retrocesso operacional e estratégico. Contratos com artistas serão renegociados, alguns, inclusive, serão contratados por obra, diz Fernando Oliveira. Patrícia Kogut fala em demissões de 114 profissionais no Rio. Janaina Nunes coloca o número na casa dos 230. Flávio Ricco traz à tona enxugamento também nos quadros da IURD. Estaria a emissora próxima de uma hecatombe?
A Record, dona de uma estrutura extra-Globo nunca antes vista, paga agora por erros primários do passado. A coisa desandou quando acharam que o mercado e, principalmente, os telespectadores queriam outra Globo, só que mais popular – por ironia do destino, é o que acontece atualmente por iniciativa da líder de audiência. Erraram a mão no popular, o transformaram em popularesco.
A Record conseguiu o feito de inflacionar o mercado, de gerar emprego para profissionais que viviam esquecidos pela Globo, de transformar atores do “segundo escalão” em grandes nomes da dramaturgia. Provocou a rival. Ocasionou mudanças. Tirou a Globo do pedestal.
Em contrapartida, a emissora de Edir Macedo adotou uma estratégia suicida. Pagou o dobro por um profissional da concorrente. Manteve um banco de mais de 200 atores quando se produzia apenas uma novela por ano – a maioria, diga-se, com contrato de 5 anos e uma longa estadia na geladeira. O inchaço uma hora não seria suportado. E é o que acontece. Com a audiência em baixa – salvas honrosas exceções -, com o mercado direcionando seus investimentos para a Copa das Confederações e o Mundial de 2014, com um noticiário negativo pregado à sua imagem, o sapato da Record apertou.
Keila fala ainda que este novo modelo de negócio pode ser seguido por outras emissoras. Concordo, emissoras decadentes têm é mesmo que buscar parcerias com produtoras independentes amparadas por leis de incentivo do governo. Mas é o caso? Breno Cunha, crítico metido a babalorixá, acha que o modelo pode funcionar, uma vez que é sucesso nos Estados Unidos. Pena que não habitamos o primeiro mundo feudal.
Longe de ser uma faca de dois gumes, adotada essa estratégia, a Record dá início ao seu fim. A derrocada do gigante que, inconsequente, esqueceu-se que era tão grande quanto o vizinho. Uma pena.
JOÃO PAULO DELL SANTO- RD1