Este colunista arrisca-se a antecipar o resultado de amanhã para elencar os principais motivos, a seu ver, que levarão Serra a não conseguir se eleger Presidente do Brasil. Essa deve ser a última tentativa do tucano, já que Aécio, pressionado, cedeu sua vez, mas está se preparando para vir com tudo em 2014. Analisando o decorrer da campanha eleitoral, temos bastantes motivos para apontar escolhas erradas de estratégia, que levarão o tucano ao fracasso nesse pleito presidencial de 2010.
1 - Racha tucano:
Não é bom começar a campanha já com um grande revés. Para ser o escolhido do partido, Serra pegou as pesquisas da época, que o apontavam como favorito, e praticamente passou como um rolo compressor em cima de Aécio. Não levou em consideração o sucesso do governo mineiro e nem o bom relacionamento de Aécio com o presidente Lula. Subestimou a força de uma chapa puro sangue.
Mais uma vez o tucanato paulista decidiu, impôs e esqueceu que os outros grandes centros do país, principalmente o nordeste, são fundamentais nas eleições.
Assim, preferiu a verba de um Índio sem expressão alguma para ser vice, em detrimento de uma chapa possivelmente capaz de combater um presidente-mito.
O apoio de Alckmin e Aécio, agora no final da campanha, é apenas para mostrar ao partido e lavar as mãos da derrota de Serra.
Entretanto cabe ao FHC um mea-culpa. Figura máxima do partido, ele deveria ter atuado de forma ativa em unificar o partido e permitir uma decisão consensual - coisa que Lula fez com facilidade mesmo após decidir sozinho que queria a Dilma.
2 - Imagem:
Serra não conseguiu consolidar uma única imagem durante o processo eleitoral. No início, por medo da força quase mítica de Lula, tentou lançar-se como um legítimo sucessor, usando até a imagem do presidente em sua campanha na TV. Soou mal. Passou então a oposição implacável, criticando tudo que fora feito pelo PT. Esqueceu-se apenas que não é tarefa simples criticar um governo que finda com 81% de aprovação popular.
Também forçou uma imagem empática, quando o país sabe que simpatia não é seu forte. É complicado terminar todo debate com aquele discurso de paz amor, se minutos antes o telespectador havia presenciado debates tensos e nada amigáveis.
3 - Escândalos:
Serra aproveitou-se dos escândalos de forma amadora e não conseguiu tirar deles nenhum abalo significativo a candidatura petista. Usou até a própria família para se vitimizar e não houve eleitor que desse atenção a um trololó ocorrido há um ano. Ou seja, o tucano guardou informação para uso político e ficou fácil perceber isso.
4 - Religião:
Serra nunca foi evangélico, mas de repente, de maneira não muito crível, virou o maior seguidor de Jesus. Tal qual capaz inclusive de parafrasear texto bíblico em santinhos, na tentativa de se alçar representante desse grande grupo social. Soou falso demais.
Tudo que ele iria acabar conseguindo, se tivesse mais tempo antes do primeiro turno, era perder o segundo lugar para Marina, essa sim realmente ligada à bancada evangélica. O tucano acabou sendo mais um numa guerra particular por poder dentro da igreja, no confronto direto entre Silas Malafaia e o bispo Edir Macedo.
5 - Central de boatos:
Na falta de uma estratégia eleitoral assertiva, o tucanato espalhou uma série de boatos sobre a petista. Do dia para a noite, Dilma praticamente virou o anticristo, assassina de criançinhas, lésbica, ameaça as famílias, entre outros.
Na ânsia de virar o jogo, o PSDB esqueceu lições importantes: Todo manual de publicidade ou marketing diz que é melhor roubar as características do produto líder que tentar desqualificá-lo. E falhou quando não observou que o ex-prefeito do Rio, César Maia, maior usuário de factóides em eleições, terminou no limbo político carioca.
6 - Medo:
Outro erro feio foi tentar usar novamente a tática do medo. Fizeram em 2002 e não deu certo. Dessa vez, seria medo do despreparo de uma adversária que nunca teve um cargo eletivo.
Faltou captar que o país aprendeu a gostar e respeitar da gestão petista. Seria quase impossível verter esse medo em conquista de votos da Dilma quando do outro lado tem um presidente idolatrado dizendo com fervor ao país que basta votar na sua candidata para que tudo continue caminhando como está.
7 - Gestor eficiente:
Serra não soube usar seus vários cargos de administrador público para lhe garantir uma imagem de gestor mais qualificado. Sempre que citou sua atuação pública, geralmente tentou comparar um governo de 8 anos atrás, do qual a população não se lembra ou não gostou. Fixou os debates sobre gestão na sua condução dos genéricos e da AIDS. Não ficou claro para o eleitor do restante do país o que ele andou fazendo de bom nesses últimos anos em São Paulo.
Ou seja, Serra perdeu a oportunidade de consolidar sua imagem de administrador, falou muito do tempo que era ministro, talvez para mostrar sua capacidade de abranger todo o país, mas fez um uso aquém do seu período como comandante de São Paulo.
Todos esses motivos, de um lado, e a força de um presidente, que por sua trajetória de vida, se torna um representante legítimo do povo brasileiro, fatalmente levarão Serra ao insucesso nesse domingo, 31 de outubro.
Aos tucanos, fica a lição clara: ou revejam seu modo de ser oposição, ou poderá encarar em 2014 ainda um possível retorno de Lula.