Por conta de seus exageros, a interpretação de Regina Duarte em “O
Astro” tem sido objeto de muitos comentários, em sua maioria negativos. A
sua Clô Hayalla, de fato, chama a atenção pelo excesso de caretas e
trejeitos. Entendo, porém, que o tom escolhido para a atriz é um dos
elementos que garantem o sucesso desta versão da novela.
Como se sabe, na sua primeira exibição, em 1977, “O Astro” conquistou
o país por conta do mistério em torno da morte de Salomão Hayalla e,
não menos importante, pelo texto escandalosamente dramático de Janete
Clair e pela direção explicitamente exagerada de Daniel Filho.
“Nesta novela, trabalhei com o kitsch”, ele conta em seu livro des
memórias, cujo título, “Antes Que Me Esqueçam”, é igualmente
grandiloquente. “Eu realmente queria apelar, e procurei fazer dos árabes
uma coisa bem extravagante, bem kitsch”, diz Daniel Filho.
A nova versão, escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro e
dirigida por Mauro Mendonça Filho, atualiza a trama com muita
competência, mas também reverencia Janete Clair e Daniel Filho em vários
aspectos.
Vejo
a interpretação de Regina Duarte como uma espécie de referência para os
demais atores. O seu exagero seria o ponto máximo permitido, abaixo do
qual todos os demais devem encontrar o seu tom.
A exagerada Clô, desta forma, é uma espécie de baliza, que ajuda
tanto os atores reconhecidamente talentosos, como Marco Ricca (Samir),
Rosamaria Murtinho (Magda) ou Antonio Calloni (Natal), quanto aqueles
mais inexperientes, como Rodrigo Lombardi (Herculano), Thiago Fragoso
(Marcio) e Alinne Moraes (Lili) a encontrarem os seus respectivos
“lugares” na constelação kitsch de “O Astro”.
O único ator da trama que, a meu ver, erra o tom em algumas cenas e
ultrapassa o limite do exagero dado por Regina Duarte é Humberto
Martins, como o Neco.
por Mauricio Stycer às 10:29
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