Ainda restam dois capítulos para o fim de Tititi e, justamente por isso, é o melhor momento para escrever a crítica da novela, pois o último capítulo não pode assombrar a história e influenciar no texto, como acaba acontecendo muitas vezes, principalmente quando não conseguimos isenção suficiente e nos envolvemos demais com a história.
Desde que a Rede Globo anunciou a trama para o horário nobre e explicou que seria um remake de duas outras novelas exibidas na década de 80, Tititi e Plumas e Paetês, ambas assinadas por Cassiano Gabus Mendes e que teria como autora Maria Adelaide Amaral, o público ficou tranquilo, afinal, ela é responsável por grandes sucessos – o remake de Anjo Mau, além das excepcionais séries A Muralha, Os Maias e A Casa das Sete Mulheres.
Desde o primeiro capítulo Tititi foi ao ar para mostrar que é possível criar, renovar e dar fôlego para o formato de folhetim que, para muitos, está desgastado. Inovação, aliás, é a palavra-mestre que define o texto desta obra. Desde a primeira cena se percebeu, além da incrível qualidade textual, a preocupação em percorrer caminhos nunca, ou pouco explorado por outros autores.
Maria Adelaide Amaral e sua equipe fizeram desta novela um marco para a TV. Em pouco mais de 200 capítulos, a trama fez referências a mais de 30 novelas – referências diretas, diga-se, e ainda a filmes, seriados, músicas e histórias marcantes de celebridades – essas, algumas vezes indiretas. É fato comum ver esse tipo de mecanismo em seriados americanos, mas no Brasil, é muito raro, muito mesmo. E o mecanismo deu tanto fôlego para a trama como poucas vezes se viu. Tititi 2010 chega ao fim como uma nova novela e não um remake, bom sinal.
Texto a parte, Tititi também priorizou a agilidade das histórias. Nenhuma delas demorava muito para acontecer, outra novidade no segmento, e não faltou criatividade para contar muitas histórias e impedir que a trama ficasse monótona. Maria Adelaide teve coragem ao separar todos os casais do folhetim e construir novos casos de amor, mesmo quando o telespectador se posicionava claramente contra. Ela mostrou ter a história nas mãos e saber o caminho que estava percorrendo.
Mas Tititi foi além da história, ela contou com a qualidade na escolha do elenco. Seriam necessárias muitas linhas para elogiar nomes que se consagraram nesta novela, mas há destaques impossíveis de não se falar. Murilo Benício que, já vinha mostrando maturidade profissional em Força-Tarefa voltou ao humor e mostrou que continua afiado neste tipo de trabalho. Cláudia Raia foi o grande destaque da novela, num trabalho memorável que a coloca no topo de interpretação feminina durante todo o período em que esteve no ar. Regina Braga mostrou que continua com um talento assombroso e merece mais chances nas telenovelas. Isís Valverde, responsável por ser a mocinha típica da trama, após um começo tímido, conseguiu dominar totalmente o papel e ganhar destaque, assim como Guilhermina Guinle que foi uma grande vilã. E Alexandre Borges? Muitas críticas soaram a seu trabalho, composição caricata e quase infantil de Jaques Leclair. Concordo, porém, é preciso fazer uma ressalva. Borges já tem nome e fama, um longo currículo de bons trabalhos, mas nunca havia entrado neste tipo de personagem e, poderia levá-lo no piloto automático, mas, ao contrário, decidiu arriscar, fugir do comum e tentar criar algo novo. Por sua coragem o ator merece aplausos, mesmo que o personagem tenha ficado dois tons acima, é raro um profissional de TV com a bagagem dele que ainda se arrisca na composição de personagens.
Tititi poderia ser uma novela perfeita, mas não foi. Um dos pontos baixos da trama foi a direção, sempre exagerada de Jorge Fernando. Se, no começo, tudo era novidade e soava de forma interessante, conforme o tempo foi passando, as passagens de tempo, os cortes de cena e mesmo o excesso de cor das cenas, dava um ar infantil demais para o folhetim, um ponto baixo.
Nesta sexta-feira sai de cena aquela que foi, certamente, a melhor novela das 7 dos últimos 10 anos. Maria Adelaide e sua equipe, juntamente com um elenco afiado, mostraram que o horário não está perdido, como muitos pensavam. É possível fazer uma trama com fôlego, inovação, e priorizar a qualidade. Tititi provou isso.
tvxtv
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