Várias destas iniciativas foram marcadas por um tom missionário, incômodo, bem como por uma felicidade ingênua que não encontrava guarida na realidade do país. Com “Esquenta!”, seu mais novo programa, a ser apresentado aos domingos entre janeiro e março deste ano, Regina parece ter encontrado o tom certo no momento exato.
Não à toa, Lula foi a grande atração do programa de estreia, numa entrevista descontraída que ele não teve a oportunidade de dar à Globo nos seus oito anos de governo. “Assista nós na televisão”, convocou o ex-presidente, bem ao seu estilo, dirigindo-se ao público. Em outro momento, Lula convidou Zeca Pagodinho a tomar uma cerveja e pediu ao sambista que cantasse um de seus maiores sucessos, aquele que diz: “Deixa a vida me levar, vida leva eu…”
Foi o único momento, aliás, em que o programa deixou o colorido auditório onde a apresentadora reinou por uma hora, cercada de amigos e músicos do primeiro time do samba, incluindo Monarco, Gilberto Gil, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz.
Regina Casé citou duas referências – nítidas, por sinal – para o “Esquenta!”: o “tropicalista” Chacrinha (1917-1988) e o carioquíssimo Jorge Perlingeiro. Pouco conhecido em São Paulo, este último é apresentador do programa “Samba de Primeira”, dono do bordão “só se for agora” e filho de Aerton Perligueiro (1921-1992), “host” da versão carioca do “Almoço com as Estralas”, na TV Tupi.
“Esquenta!” está escalado para substituir, durante o verão, o humorístico “Os Caras de Pau”. A certa altura da estreia, Leandro Hassum e Marcius Melhem, protagonistas do programa, apareceram no auditório para fazer piada com a ideia de que Regina Casé estaria roubando o horário deles.
Obviamente que, se a Globo tiver planos de fixar “Esquenta!” futuramente em sua grade, não será no lugar dos “Caras de Pau”. O formato do programa de auditório indica que a competição, se houver, será com Luciano Huck ou Faustão.
Regina levou ao programa de estreia um pedreiro que trabalha numa obra em frente ao seu prédio, um idoso que vende polvilho na praia e um outro senhor que carrega malas simplesmente para partilhar com o público do sorriso, da simpatia e do otimismo dos três.
O roteirista Hermano Vianna, o diretor Estevão Ciavatta e o diretor de núcleo Guel Arraes, além de Regina, é claro, parecem acreditar que é possível fazer televisão popular longe do assistencialismo do “Caldeirão do Huck” e do tom popularesco do “Domingão do Faustão”. O momento, de fato, é propício.
por Mauricio Stycer
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