Atores voltando para Globo
Estúdios da Record no RecNov: revoada de talentos e ações trabalhistas
Se existe um conceito para definir os planos da Rede Record, ele certamente está contido na palavra “ambição”. Desde que a emissora foi comprada pela Igreja Universal, seu sonho declarado é alcançar o primeiro lugar em audiência, posto ocupado pela TV Globo. Para atingir tamanha façanha, a estratégia seguida foi a mesma que, nos anos 70, fez a empresa fundada por Roberto Marinho crescer: investimentos pesados em teledramaturgia, jornalismo, esportes, filmes e programas de variedades. O script foi seguido à risca. A qualidade dos equipamentos e o nível de seus profissionais passaram a ser uma obsessão, foram inaugurados os estúdios RecNov, em Vargem Grande, e arregimentados técnicos e estrelas da concorrente — cerca de oito em cada dez funcionários foram trazidos diretamente da rival. Logo os resultados apareceram e se refletiram no faturamento publicitário, que fechou o ano passado em 1,6 bilhão de reais. Tudo ia muito bem. Mas, como nas boas tramas de novela, a situação se inverteu. A média de audiência diária estacionou nos 7 pontos — a da Globo gira em torno de 18 — e a debandada de suas estrelas é nítida mesmo para quem não possui um sistema HD. Insatisfeitas com as condições de trabalho, elas começam a fazer o caminho de volta ao Projac.
A face mais vistosa desse movimento foi o ator Gabriel Braga Nunes, o vilão Léo de Insensato Coração. Depois de passar cinco anos na Record, na qual protagonizou quatro produções, ele voltou à Globo no fim do ano passado. Na época aceitou trocar o salário de 55 000 reais na emissora dos bispos por um contrato temporário e vencimentos de 35 000 reais no Jardim Botânico. A ousadia acabou recompensada. Com o sucesso de seu personagem, as condições melhoraram e Nunes assinou um contrato de quatro anos e 50 000 reais por mês. Percurso semelhante foi feito por Marcelo Serrado, atualmente interpretando na novela Fina Estampa o mordomo Crô, e também por Lavínia Vlasak, Tuca Andrada, Ana Beatriz Nogueira e Petrônio Gontijo (veja o quadro na página seguinte). Eles ganham menos hoje, mas estão felizes por ter retornado à maior vitrine da televisão brasileira. Nem todos, porém, tiveram a mesma sorte. Em 2005, atraída pela remuneração de 35 000 reais, a atriz Tássia Camargo deixou o seriado Malhação para fazer a novela Vidas Opostas. Durante as gravações, ela se desentendeu com a direção da emissora e não teve o contrato renovado. Hoje, processa o antigo empregador — e transpira ferocidade nas críticas. “Aquilo é uma bagunça. Não sabia o tamanho da roubada em que estava me metendo”, ataca. Procurada, a Record se limitou a responder que a movimentação de profissionais é normal no mercado.
A face mais vistosa desse movimento foi o ator Gabriel Braga Nunes, o vilão Léo de Insensato Coração. Depois de passar cinco anos na Record, na qual protagonizou quatro produções, ele voltou à Globo no fim do ano passado. Na época aceitou trocar o salário de 55 000 reais na emissora dos bispos por um contrato temporário e vencimentos de 35 000 reais no Jardim Botânico. A ousadia acabou recompensada. Com o sucesso de seu personagem, as condições melhoraram e Nunes assinou um contrato de quatro anos e 50 000 reais por mês. Percurso semelhante foi feito por Marcelo Serrado, atualmente interpretando na novela Fina Estampa o mordomo Crô, e também por Lavínia Vlasak, Tuca Andrada, Ana Beatriz Nogueira e Petrônio Gontijo (veja o quadro na página seguinte). Eles ganham menos hoje, mas estão felizes por ter retornado à maior vitrine da televisão brasileira. Nem todos, porém, tiveram a mesma sorte. Em 2005, atraída pela remuneração de 35 000 reais, a atriz Tássia Camargo deixou o seriado Malhação para fazer a novela Vidas Opostas. Durante as gravações, ela se desentendeu com a direção da emissora e não teve o contrato renovado. Hoje, processa o antigo empregador — e transpira ferocidade nas críticas. “Aquilo é uma bagunça. Não sabia o tamanho da roubada em que estava me metendo”, ataca. Procurada, a Record se limitou a responder que a movimentação de profissionais é normal no mercado.
Implantar uma cultura vencedora e comprometida com a qualidade não é uma tarefa simples. Investimentos maciços e contratação de talentos desenvolvidos nos rivais mais poderosos podem até ajudar, mas não são nenhuma garantia de sucesso. De fato, a parceria com a Igreja Universal garante à Record disponibilidade de recursos para montar e manter uma estrutura de primeira linha. Apenas no ano passado, a emissora recebeu 430 milhões de reais relativos à compra de horários na programação — o equivalente a um terço de tudo o que arrecada no mercado publicitário. Trata-se de uma vantagem competitiva que nenhuma outra rede desfruta. No entanto, ainda há muitos ajustes a ser feitos no modelo recém-implantado. Atores que deixaram a empresa nos últimos meses criticam o amadorismo das produções, nas quais são comuns atrasos, falta de sintonia entre as equipes de figurino e de diálogo com a direção. “Existe uma sensação de que ali cada um faz o que quer”, diz um deles, que prefere não se identificar.
Os primeiros problemas começaram a aparecer em 2009, quando profissionais que ocupavam cargos-chave trombaram com a cúpula da casa e foram substituídos por integrantes da Igreja Universal. Foi o caso de Eduardo Zebini. Ex-diretor de esportes, ele foi responsável pela aquisição dos direitos exclusivos de transmissão da Olimpíada de Londres, no ano que vem. Acabou dispensado e suas funções foram assumidas pelo bispo Paulo Calil. No início deste ano, a Record deixou a disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2014 em meio a uma polêmica que provocou um racha no Clube dos 13. Apesar dos valores milionários prometidos, os principais times participantes da entidade nem sequer ouviram a proposta — desgaste interpretado como um claro sinal da falta de familiaridade de Calil com esse tipo de negociação.
Como efeito colateral, a agressiva política de contratações desaguou em processos trabalhistas. Para pagar salários mais altos, a rede dos bispos arregimentou boa parte dos funcionários por meio de empresas abertas por eles, um expediente para diminuir os encargos tributários. Até aí, tudo bem para os recém-chegados. Conforme os contratos não foram sendo renovados — ou eram rescindidos —, o esquema passou a ter sua legitimidade questionada na Justiça. Diretor de novelas de sucesso na TV Globo, Flávio Colatrello é um dos que brigam nos tribunais. Em 2004, ele foi convidado pelo então diretor Herval Rossano para implantar a teledramaturgia. Seria dispensado três anos depois. “Dei muito mais à emissora do que o salário que recebia”, afirma. “Espero receber as férias e horas extras que eles não me pagaram.” Para a Record, ficam duas lições: o caminho para o sucesso é árduo e os atalhos, muitas vezes, são mais acidentados que a via principal.
Os primeiros problemas começaram a aparecer em 2009, quando profissionais que ocupavam cargos-chave trombaram com a cúpula da casa e foram substituídos por integrantes da Igreja Universal. Foi o caso de Eduardo Zebini. Ex-diretor de esportes, ele foi responsável pela aquisição dos direitos exclusivos de transmissão da Olimpíada de Londres, no ano que vem. Acabou dispensado e suas funções foram assumidas pelo bispo Paulo Calil. No início deste ano, a Record deixou a disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2014 em meio a uma polêmica que provocou um racha no Clube dos 13. Apesar dos valores milionários prometidos, os principais times participantes da entidade nem sequer ouviram a proposta — desgaste interpretado como um claro sinal da falta de familiaridade de Calil com esse tipo de negociação.
Como efeito colateral, a agressiva política de contratações desaguou em processos trabalhistas. Para pagar salários mais altos, a rede dos bispos arregimentou boa parte dos funcionários por meio de empresas abertas por eles, um expediente para diminuir os encargos tributários. Até aí, tudo bem para os recém-chegados. Conforme os contratos não foram sendo renovados — ou eram rescindidos —, o esquema passou a ter sua legitimidade questionada na Justiça. Diretor de novelas de sucesso na TV Globo, Flávio Colatrello é um dos que brigam nos tribunais. Em 2004, ele foi convidado pelo então diretor Herval Rossano para implantar a teledramaturgia. Seria dispensado três anos depois. “Dei muito mais à emissora do que o salário que recebia”, afirma. “Espero receber as férias e horas extras que eles não me pagaram.” Para a Record, ficam duas lições: o caminho para o sucesso é árduo e os atalhos, muitas vezes, são mais acidentados que a via principal.
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