- Apesar do assédio de todas as hebréias, Sansão se encanta logo por uma filistéia, para desgosto dos pais, no primeiro capítulo da minissérie da Record
A mais cara minissérie já realizada na televisão brasileira apresentou Sansão (Fernando Pavão) como um sujeito nada motivado pela nobre missão que Deus lhe confiou, a de libertar os hebreus da opressão imposta pelos filisteus, e exclusivamente interessado nas moças ao seu redor. “Você devia se preocupar mais com o trabalho do que ficar olhando as moças”, diz Manoá (Roberto Frota), pai de Sansão.
Para piorar, o herói não se deixa seduzir por nenhuma das hebréias que sorriem para ele e se encanta justamente por uma filistéia, com quem troca um rápido olhar numa feira.
Do outro lado, Dalila (Mel Lisboa) é apresentada como uma mulher de beleza incomparável e, para piorar, sedutora. “Até o mais forte dos homens sucumbiria à sua beleza”, diz Zaíra (Ítala Nandi). O padrasto de Dalila, Rudiju, vai enlouquecer por ela, dando a deixa para a mãe, Agar (Nina de Pádua), acusar a filha: “Planta a semente, depois colhe”.
O primeiro capítulo também sofreu por conta do tom declamatório, artificial, do texto dito pelos atores. “Eu vivo de fé”, diz Manoá, logo no início. “Da minha fé eu não abro mão”, declama Zilá (Lu Grimaldi), mãe de Sansão. “Deus não se oporá. Foi ele que a pôs no meu caminho”, recita o herói sobre a filistéia que o encanta. “Deus lhe deu a força, um dia lhe dará o entendimento”, replica a mãe, num de seus diálogos com o filho.
As tarefas e escolhas envolvidas na adaptação de uma lenda bíblica não são simples. A Record exibe uma produção de qualidade, com bons atores no elenco e uma boa edição, capaz de criar expectativas e manter a atenção do espectador no desenrolar da trama. Mas, ao fim dos 50 minutos do primeiro capítulo, não é possível deixar de lamentar que, entre tantas possibilidades, a emissora tenha optado pelo caminho mais óbvio para contar a sua história.
Mauricyo Stycer
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