domingo, outubro 31, 2010

Sucesso da reprise de "Vale Tudo" faz canal criar cotas de patrocínio às pressas

Beatriz Segall, a eterna Odete Roitman, e Nathalia Timberg, a Celina, em cena da novela "Vale Tudo"
Odete Roitman marcou a sua passagem de volta ao Brasil para 10 de novembro. Nesta data será exibido o 29º capítulo da reprise de "Vale Tudo", em que a grande vilã aparece na história.
Transmitida de maio de 1988 a janeiro de 1989, a novela foi um marco da TV ao denunciar a corrupção no Brasil e mobilizar telespectadores com a pergunta "Quem matou Odete Roitman?". A reapresentação vai ar no Viva, canal pago da Globosat que faz sucesso com programas antigos da TV Globo.
A volta de Odete Roitman, 22 anos depois, será comemorada com festa, na vida real, por André Fischer, diretor do portal GLS Mix Brasil. Desde que "Vale Tudo" entrou no ar, no início do mês, ele está "enlouquecido". Deixa baladas para chegar em casa antes da 0h45, quando o capítulo começa. "Se vou dormir cedo, coloco o despertador para esse horário."
Na primeira semana, a reprise levou o Viva à liderança do Ibope da TV paga. No horário alternativo, ao meio-dia, só perde para os infantis. O número de seguidores do Twitter do canal triplicou, e a novela se tornou um dos assuntos mais comentados na internet. Telespectadores-internautas, gays em especial, falam de tudo em tempo real, de ombreira e cabelos repicados a gírias como "eu transo bem um fogão".
Tanto sucesso surpreendeu até Letícia Muhana, diretora do Viva. "Tínhamos pesquisas apontando que o público queria programas da década de 80 para trás. Escolhemos 'Vale Tudo' porque foi marcante, mas nos espantamos com esse tsunami."
Às pressas, dois departamentos se mobilizaram. O comercial criou cotas de patrocínio para a novela, a pedido de anunciantes. E o jurídico se arma contra a pirataria dos capítulos na internet.
Essa é a segunda vez que "Vale Tudo" é reprisada. A primeira foi em 92, no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas dois fatores tornam a reapresentação atual mais badalada.  "Quatro anos foi um tempo curto, havia uma ressaca da novela, que foi avassaladora. E hoje há as redes sociais da internet, fundamentais para esse sucesso."
O momento político do Brasil de hoje também faz de "Vale Tudo", produzida antes do impeachment de Collor, uma novela atual, para Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política da USP. "É lamentável constatar que, após 22 anos, a discussão política não evoluiu. Nessa campanha eleitoral, em vez de propostas, só se falou de corrupção", diz.
Outra diferença crucial é que, na primeira reprise, a novela sofreu cortes, e nesta está integral. "Respeitamos até os blocos e não vamos tirar nem merchandisings", afirma a diretora do Viva.
Isso acaba com o bafafá de internautas de que Odete Roitman, na reprise, poderia ser morta por outra pessoa, uma vez que, na época, a Globo fez cinco finais diferentes.
Gilberto Braga, autor da novela em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, também sepulta a hipótese. "Nem me lembro quais foram os outros finais. E, com toda a certeza, as fitas foram apagadas", afirmou.
Odete pode até ter ressuscitado. Mas a mesma personagem de 1989 vai mandá-la de volta para o inferno.
A reportagem é de exclusividade da Folha e é assinada pela jornalista Laura Mattos.

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